quinta-feira, 24 de maio de 2012

A BOMBA ATÔMICA DO AMOR DE DEUS


A caridade é uma das três virtudes teologais que recebemos no santo Batismo.
(Cf. Catecismo nº 1266)

“A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como nós mesmos, por amor de Deus” (Cat. nº 1822).

E a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).

Não resta dúvida: possuímos dentro de nós essa capacidade de amar.
É igual à bomba atômica:
A bomba atômica, resumidamente, é formada com átomos de urânio. Quando esses átomos são bombardeados com nêutrons ocorre um fenômeno chamado de “fissão nuclear”, ou seja, o núcleo do átomo do urânio se divide em dois elementos (bário e criptônio), criando uma reação em cadeia capaz de gerar grande quantidade de energia. Veja só: um simples átomo pode ser o responsável por explosões em cadeia, que liberam tanta energia a ponto de destruir em instantes todo o planeta.

Assim também somos nós. Dentro de cada batizado existe a graça infusa do Amor de Deus. Mas para produzir essa “energia”, necessitamos ser ”bombardeados” com a graça da Efusão do Espírito Santo. Sabemos que essa graça nos é oferecida pela Igreja em vários momentos: na Eucaristia, na Confissão e também na oração pessoal e comunitária.

Mas se temos essa graça, por que não produzimos frutos que correspondam à graça recebida? Novamente, o exemplo da bomba atômica pode nos ajudar. Para que se consiga a quebra dos átomos de urânio é necessário que esse processo se dê através de um equipamento chamado “reator nuclear”. Somente dominando a arte de construir reatores a ciência conseguiu produzir a bomba atômica.

Também na vida interior, precisamos desse “mecanismo” que possibilite essa explosão de caridade. A Palavra de Deus é um dos grandes reatores capazes de desencadear essa explosão de amor:

Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,12s).

A Palavra de Jesus pode em dado momento bombardear nosso núcleo mais íntimo e produzir em nós esse efeito da bomba atômica. Os santos são aqueles que explodiram de amor a Jesus e aos irmãos provocando uma reação em cadeia. Que estrago fez uma Irmã Dulce, uma Madre Teresa e o Papa João Paulo II! Chega uma hora de nossa caminhada que precisamos “explodir”, como aconteceu com Francisco de Assis, que explodiu de amor pelos pobres.

Vivemos uma época muito propícia para a Efusão do Espírito Santo, que é a Festa de Pentecostes. É claro que todos os dons e carismas do Espírito Santo são riquezas extraordinárias, mas como seria maravilhoso se nesse Pentecostes pedíssemos uma EFUSÃO DE AMOR!

A caridade é o dom por excelência (Cf. Cor 13,1-13). Temos esse grande poder dentro de nós! Assim como no exemplo da bomba atômica, dificilmente o mundo resistirá à energia produzida pelo amor de Cristo vivido e testemunhado até as últimas consequências. O amor de Cristo na Cruz está latente dentro de nós, ou seja, está a espera de ser manifestado.

A criação aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus” (Rm 8,19)

Vem, Espírito Santo!
Vem, Espírito de Amor!
Tu que és o Amor de Deus, faz-nos transbordar de caridade!

Vinícius Paiva
Comunidade Católica Servos de Caná

quarta-feira, 23 de maio de 2012

"ABBÁ, PAI" - Catequese com Bento XVI



Queridos irmãos e irmãs,
Quarta-feira passada mostrei como São Paulo diz que o Espírito Santo é o grande mestre da oração e nos ensina a nos dirigirmos a Deus com os termos afetuosos de filhos, chamando-o de "Abbá, Pai". Assim fez Jesus: também no momento mais dramático da sua vida terrena, Ele não perdeu a confiança no Pai e sempre o invocou com a intimidade do Filho Amado. No Getsêmani, quando sente a angústia da morte, a sua oração é: "Abbá! Pai! Tudo é possível a ti: afasta de mim este cálice! Mas, não se faça aquilo que quero, mas aquilo que queres" (Mc 14,36).

Desde os primeiros passos do seu caminho, a Igreja acolheu esta invocação e a fez própria, sobretudo na oração do Pai Nosso, na qual dizemos todos os dias: "Pai, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu" (Mt 6, 9-10). Nas cartas de São Paulo a encontramos duas vezes. O apóstolo se dirige aos Gálatas com estas palavras: "E pelo fato de serdes filhos de Deus é a prova que Ele mandou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, o qual grita em nós: "Abbá! Pai!" (Gal 4,6). E no centro desse canto ao Espírito que está no capítulo oitavo da carta aos Romanos, São Paulo afirma: "E vós não recebestes um espírito de escravos para cair no medo, mas recebestes o Espírito que vos torna filhos adotivos, por meio do qual gritamos: "Abbá, Pai!" (Rom 8,15). O cristianismo não é uma religião do medo, mas da confiança e do amor do Pai que nos ama. Essas duas grandes afirmações nos falam do envio e do acolhimento dado ao Espírito Santo, o dom do Ressuscitado, que nos torna filhos em Cristo, o Filho Unigênito, e nos coloca em uma relação filial com Deus, relação de profunda confiança, como aquela das crianças; uma relação filial análoga àquela de Jesus, mesmo essa sendo de origem e teor diferentes: Jesus é o Filho eterno de Deus que se fez carne, por outro lado, nós, nos tornamos filhos nele, no tempo, mediante a fé e os Sacramentos do Batismo e do Crisma; graças a esses dois Sacramentos, mergulhamos no Mistério Pascal de Cristo. O Espírito Santo é o dom precioso e necessário que nos torna filhos de Deus, que realiza aquela adoção filial a qual somos chamados, todos os seres humanos, para que, como retrata a benção divina da Carta aos Efésios, Deus, em Cristo, "nos escolheu antes da criação do mundo para sermos santos e imaculados diante dele na caridade, predestinando-nos a sermos para Ele filhos adotivos mediante Jesus Cristo" (Ef 1,4).

Talvez o homem de hoje não perceba a beleza, a grandeza, e a consolação profunda contidas na palavra "pai" com a qual podemos nos dirigir a Deus na oração, por causa da figura paterna que geralmente não é suficientemente presente, ou suficientemente positiva na vida cotidiana, nos tempos de hoje. A essência do pai, o problema de um pai não presente na vida de uma criança é um grande problema do nosso tempo, por isso, se torna difícil entender na sua profundidade o que significa dizer que Deus é Pai para nós. A partir do próprio Jesus, do seu relacionamento filial com Deus, podemos aprender o que significa exatamente o "pai", qual é a verdadeira natureza do Pai que está nos céus. Críticos da religião disseram que falar do "Pai", de Deus, seria uma projeção dos nossos pais ao céu. Mas, é verdade o contrário: no Evangelho, Cristo nos mostra quem é o pai e como é um verdadeiro pai, para que possamos intuir a verdadeira paternidade, aprender também a verdadeira paternidade. Pensemos nas palavras de Jesus no sermão da montanha onde diz: "amais os vossos inimigos e orais por aqueles que vos perseguem, para que sejais filhos do Pai vosso que está nos céus" (Mt 5,44-45). É exatamente no amor de Jesus, o Filho Unigênito - que é ampliado pelo dom de si mesmo na cruz -  que se é revelada a nós a verdadeira natureza do pai: "Ele é Amor, e também nós, na nossa oração de filhos, entramos nesse circuito de amor, amor de Deus que purifica os nosso desejos, as nossas atitudes marcadas pelo fechamento, autossuficiência, do egoísmo típico do homem velho.

Gostaria de concentrar-me sobre a paternidade de Deus, para que possamos fazer com que o nosso coração seja abrasado por esta profunda realidade que Jesus Cristo nos fez conhecer plenamente e para que a nossa oração seja nutrida. Podemos dizer, portanto, que em Deus, o ser Pai tem duas dimensões. Antes de tudo, Deus é nosso Pai, porque é nosso Criador. Cada um de nós, todo homem e toda mulher é um milagre de Deus, é desejado por Ele e é conhecido pessoalmente por Ele. Quando no livro do Gênesis se diz que o ser humano é criado à imagem de Deus (CFR 1,27), se deseja exprimir exatamente esta realidade: Deus é nosso Pai, para Ele não somos anônimos, impessoais, mas temos um nome. E uma palavra nos Salmos, me toca sempre quando a rezo: "As tuas mãos me plasmaram", diz o salmista (Sal 119,73). Cada um de nós, pode dizer, nesta bela imagem da relação pessoal com Deus: "As tuas mãos me plasmaram. Pensaste em mim, me criaste, me quiseste". Mas isso ainda não basta. O Espírito de Cristo nos abre a uma segunda dimensão da paternidade de Deus, além da criação, porque Jesus é o Filho em sentido pleno, consubstancial ao Pai, como professamos no Creio. Se tornando um ser humano como nós, com a encarnação, a morte e a ressurreição, Jesus, por sua vez, nos acolhe na sua humanidade e no próprio ser Filho, assim, também nós podemos entrar na sua específica pertença a Deus. Certamente o nosso ser filhos não tem a plenitude do ser Filho de Jesus: nós devemos nos tornar sempre mais, ao longo do caminho de toda a nossa existência cristã, crescendo no seguimento de Cristo, na comunhão com Ele para entrar sempre mais intimamente na relação de amor com Deus Pai, que sustenta nossa vida. E é essa a realidade fundamental que nos vem aberta quando nos abrimos ao Espírito Santo e Ele nos faz dirigir a Deus dizendo-lhe "Abbá", Pai! Entramos realmente além da criação na adoção com Jesus; estamos realmente unidos em Deus, e filhos em um modo novo, em uma dimensão nova.

Mas gostaria agora de retornar aos dois trechos de São Paulo nos quais estamos considerando a ação do Espírito Santo na nossa oração; também aqui são dois passos que se correspondem, mas contém uma definição diferente. Na carta aos Gálatas, de fato, o apóstolo afirma que o Espírito grita em nós "Abbá!Pai!"; já na carta aos Romanos diz que somos nós a gritar "Abbá!Pai!". E São Paulo quer nos fazer compreender que a oração cristã não é nunca, não acontece nunca em sentido único de nós a Deus, não é somente um "agir nosso", mas é expressão de uma relação recíproca na qual Deus age primeiro: é o Espírito Santo que grita em nós, e nós podemos gritar para que o impulso venha do Espírito Santo. Nós não poderíamos rezar se não fosse inscrito na profundidade do nosso ser o desejo de Deus, o ser filhos de Deus. Desde quando passou a existir, o homo sapiens está sempre à procura de Deus, à procura de falar com Deus, porque Deus inscreveu-se nos nossos corações. Portanto, a primeira iniciativa vem de Deus, e com o Batismo, Ele de novo age em nós, o Espírito Santo age em nós; é o primeiro iniciador da oração para que possamos depois realmente falar com Deus e dizer "Abbá" a Deus. Portanto, a sua presença abre a nossa oração e a nossa vida, abre os horizontes da Trindade e da Igreja.

Além disso, compreendemos - este é um segundo ponto - que a oração do Espírito de Cristo em nós e a nossa nele, não é somente um ato individual, mas um ato de toda a Igreja. No rezar se abre o nosso coração, entramos em comunhão não somente com Deus, mas exatamente com todos os filhos de Deus, para que sejamos uma coisa só.Quando nos dirigimos ao Pai na nossa morada interior, no silêncio e no recolhimento, não estamos nunca sozinhos. Quem fala com Deus não está sozinho. Estamos na grande oração da Igreja, somos parte de uma grande sinfonia que  a comunidade cristã, espalhada em todas as partes da terra e em todos os tempos, eleva a Deus; claro, os músicos e os instrumentos são diferentes -  e isso é um elemento de riqueza - , mas a melodia de louvor é única e em harmonia. Todas as vezes, então, que gritamos e dizemos: "Abbá!Pai!" é a Igreja, toda a comunhão dos homens em oração que sustenta a nossa invocação, e a nossa invocação é a invocação da Igreja. Isso também se reflete na riqueza dos carismas, dos ministérios, das tarefas que realizamos na comunidade. São Paulo escreve aos cristãos de Corinto: "Existem diversos carismas, mas somente um é o Espírito; existem diversos ministérios, mas um só é o Senhor; existem diversas atividades, mas um só é o Deus que age em todos nós" (I Cor 12,4-6). A oração guiada pelo Espírito Santo, que nos faz dizer: "Abbá! Pai" com Cristo e em Cristo, nos insere no único grande mosaico da família de Deus no qual cada um tem um lugar importante e um papel importante, em profunda unidade com o todo.

Uma última reflexão: nós aprendemos a gritar "Abbá, Pai" também com Maria, a Mãe do Filho de Deus. O cumprimento da plenitude dos tempos, do qual fala São Paulo na Carta aos Gálatas (cfr 4,4), acontece no momento do sim de Maria, da sua adesão plena à vontade de Deus: "eis, sou a serva do Senhor" (Lc 1,38).

Queridos irmãos e irmãs, aprendemos a provar na nossa oração a beleza de sermos amigos, filhos de Deus, de poder invocá-lo com a confiança de uma criança que se dirige aos pais que a amam. Abramos a nossa oração à ação do Espírito Santo para que nós gritemos a Deus "Abbá! Pai" e para que a nossa oração transforme, converta constantemente o nosso pensar, o nosso agir para torná-lo sempre mais conforme àquele do Filho Unigênito, Jesus Cristo. Obrigado.


Praça de São Pedro - Vaticano - Quarta-feira, 23 de maio de 2012

domingo, 20 de maio de 2012

CONVERSA COM MARIA NUMA TARDE DE MAIO



Mãe Imaculada, minha Auxiliadora: Das montanhas de Minas, escuto Adélia Prado, e ela fala ao meu coração: “Em maio, a tarde não arde. Em maio, a tarde não dura. Em maio, a tarde fulgura”.
Chegamos ao mês de maio, mês desde sempre dedicado a você, Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe. Neste mês, iremos celebrar o tão querido “Dia das Mães”. Neste mês, prolongaremos as alegrias do tempo pascal. Alegrias que foram vividas por você, Mãe, que acompanhou, passo a passo, os passos de seu Filho na tarde mais triste de sua vida. E você foi com ele até o momento final.
Lembra-se das palavras “Mãe, eis aí teu filho. Filho, eis aí tua Mãe”? É pensando nelas que me pego pensando: Quem, Mãe, não precisa de mãe? Quem não precisa de Você? Desde o primeiro momento da vida, é a mãe quem nos ampara, protege, alimenta. Naquele momento, ali, aos pés da cruz, Você se tornou a Mãe do novo mundo, recriado segundo o coração do seu Filho. Mesmo quando Ele estava agonizando, mesmo assim, não quis nos deixar órfãos. Mesmo quando Ele já havia entregado tudo – o corpo, o sangue, o espírito –  já não restava mais nada do que foi a vida humana do Filho de Deus que também foi Seu, um soldado veio e abriu-lhe o lado. E do lado aberto jorrou sangue e água. Desse lado traspassado, nasceu a comunidade dos que O seguem porque O amam. Nasceu a Igreja. Antes, porém, que a Igreja nascesse, Ele providenciou Mãe que cuidasse dela, desde o primeiro choro. Porque choro sempre haverá, e será muito. Quanta sensibilidade naquele momento tão duro e cruel! Quanto amor dedicado! “Amou-nos até o fim!
Ali, aos pés da cruz do Senhor, já estávamos todos nós: você, eu, todos. Todos nós estávamos, pois foi por nós que Ele se entregou. Foi por você, por mim, por todos que Ele derramou Seu sangue. É nisso que eu penso toda vez que problemas e dificuldades se aproximam de minha vida. É sobre isso que eu rezo, nesses momentos. Apenas lembro a Ele que eu já estava lá, naquele dia, aos pés da cruz. E se foi assim, não é agora que Ele irá me abandonar. E eu asseguro a você: Ele nunca me abandonou. Sabe por quê? Porque Ela nunca me abandonou. Porque Ela estava lá, comigo, conosco, naquele dia, aos pés da cruz. Mãe que é mãe jamais abandona!
Nós precisamos de Mãe.
Essa é a nossa fé em Maria-nossa Mãe. É claro que nós sabemos e acreditamos que Ela não faz milagres. Quem faz milagres é Deus. Mas Ela pede, intercede, suplica, como só as mães sabem fazer por seus filhos. Em Caná, quando o vinho acabou, quem intercedeu? O mordomo encarregado da festa nem sabia que o vinho havia acabado. O mordomo se espantou que o vinho novo fosse melhor e que ficasse guardado para o final da festa, quando geralmente se servia o pior. Quem estava atenta a tudo? Na história de Caná, a impressão que se tem é que ninguém sabia de nada. Ninguém! A não ser a Mãe. Ela sabia. E não só sabia, mas providenciava. Há momentos em nossas vidas que o de que mais precisamos é de que Ela seja o que sempre foi, desde o início: a Intercessora fiel que conhece nossas necessidades, antes e melhor que nós. E ainda mais, Ela acredita em nós e, se assim posso dizer, briga por nós. Ela acredita em nós, mais do que nós mesmos nos acreditamos.
Mantém-se a pergunta: precisamos ou não precisamos de mãe?
Parabéns a todas vocês, mães, pelo dia que lhes é dedicado, nesse mês de céu tão azul e tão bonito. Parabéns a você, Maria, Mãe de Jesus! Seja para todas o modelo de mãe que ama, que não recusa o filho, venha como ele vier, faça o que ele fizer. E quando alguma delas pensar em abandonar o filho, antes de chegar a conhecê-lo, sussurre em cada ouvido uma melodia que canta mais suave que a brisa da aurora, e com uma voz que só se pode ouvir a partir do coração, diga a essa mãe: Antes de pensar nele, pense em mim, e pense em Deus. Nós nunca abandonamos você!
Mãe, com sensibilidade, Teresinha de Lisieux escreveu o pensamento que agora lhe dou e que me enche de encanto e ternura, quando penso em você: “O que Maria teve mais do que nós é que ela não podia pecar, estava isenta do pecado original, mas por outro lado teve menos chance do que nós, pois não teve uma Virgem Maria para amar: isso é uma doçura a mais para nós e a menos para ela”.
Obrigado, Mãe, por você ter-me aceitado como sou, jamais ter-me recusado, jamais ter-me abandonado. De certa forma muito pequena, eu sei, eu também sou Jesus para você. Às vezes, sou Jesus desfigurado, caído, arrebentado, quase irreconhecível. Mas sou Jesus, só para você, porque só você conseguiria me amar, como amou a Ele.
Agora, a tarde cai por detrás da serra, a luz se esvai no clarão do mar. São seis horas. É a Sua hora, Mãe: a hora da Ave-Maria, toda cheia de graça, ainda mais linda que a luz do entardecer.
+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niterói

(O grifo é nosso. Texto extraído de http://www.arqnit.org.br/)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

INSPIRAÇÃO E MISSÃO



Inspiração", esta palavrinha do nosso vocabulário, comumente empregada para caracterizar o trabalho de hagiógrafos, profetas, poetas e artistas, deverá servir agora para caracterizar o trabalho missionário da Igreja no Brasil. Nunca uma palavra é tão bem-vinda como esta, nesta contagem regressiva para o 3º Congresso Missionário Nacional. Quando falta inspiração no trabalho da Igreja, sobra transpiração. Este perigo é real. A fé sem inspiração é fé sem missão. Um dia sem inspiração é um dia sem missão e um dia sem missão é um dia sem inspiração. Sem inspiração facilmente caímos na rotina. Um dia sem inspiração e sem missão é um dia de cansaço, de enjoo, de fadiga e de tédio.
Concretamente, uma Igreja sem inspiração é uma Igreja sem missão. Missão sem inspiração é propaganda. Missão sem inspiração é como, para muita gente, um dia sem uma xícara de café. Café para mim é uma fonte de inspiração. Quando estou cansado, repetitivo e sem inspiração, tomo um gole de café e logo me vem a inspiração. Se até uma simples xícara de café faz a diferença no ser humano, imagine o que fará a inspiração divina, o sopro de Deus, a iluminação do Espírito na mente e no coração da Igreja missionária, como aconteceu com os escritores sagrados."Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para argumentar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra" (2Tm 3,16-17). Sob este tipo de inspiração, João escreveu um belo texto sobre a missionariedade de Deus, nosso Pai e de Jesus, nosso Irmão. Jo 3,16 é o coração missionário da Bíblia, pois, revela o ardor e o amor missionário de Deus. Este texto é modelo para ação missionária da Igreja. Os agentes deste ardor missionário são o Pai que envia seu Filho ao mundo; o Filho, o enviado; o mundo como alvo; o amor como o propósito; e a missão: salvar o mundo.Agora, inspirados por este texto, deveríamos nos perguntar: hoje quantos pais desejam ver seus filhos missionários e em missão? Quantos filhos obedecem aos desejos missionários de seus pais? E quantos dão o melhor que possuem para salvar o mundo? Deus, nosso Pai e Jesus, nosso Irmão, sob a inspiração do Divino Espírito Santo, são modelos de missionariedade.O Brasil missionário, portanto, precisa muito desta inspiração para realizar este Congresso Missionário: inspiração para organizar o Congresso; inspiração para preparar os delegados; inspiração para realizar este Congresso. E Palmas precisa de inspiração para se preparar bem para acolher os missionários do Brasil, para participar e aplicar as lições do referido Congresso. Então, inspiração para os organizadores, os assessores e os delegados e inspiração para a Igreja hospedeira e para os hospedeiros.Portanto, não se vive sem inspiração e sem missão. Precisamos rezar muito, o quanto antes, antes que seja tarde, pedindo inspiração: "livrai-nos, Senhor, de um dia sem inspiração e sem missão!" Lembro aquela frase da Prece Eucarística VI D: "Inspirai-nos palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos..."Não queremos nada e nem ninguém, neste Congresso, sem inspiração missionária, satisfeitos com o que já disseram e já fizeram pela missão. Estes são sinais de missão sem inspiração. Queremos um Congresso de pessoas inspiradas por Deus, que querem ser mais e fazer mais pela missão.
DOM PEDRO BRITO GUIMARÃES