sábado, 21 de abril de 2012

FORMAÇÃO PARA VOCACIONADOS

Neste dia 21/04 realizamos o primeiro encontro de formação para vocacionados à vida de aliança na Comunidade. Pedimos à Virgem de Caná que acompanhe cada um dos dezessete vocacionados que deram início hoje a esse caminho de discernimento vocacional. Que Jesus Misericordioso possa dar-lhes a graça necessária nessa nova etapa de suas vidas!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Catquese de BENTO XVI sobre a Oração da Igreja

Caríssimos irmãos e irmãs,

Depois das grandes festas, retornamos agora às catequeses sobre a oração. Na audiência antes da semana santa, nos detivemos sobre a figura da Beata Virgem Maria, presente no meio dos apóstolos em oração, no momento no qual esperavam a chegada do Espírito Santo. Uma atmosfera orante acompanha os primeiros passos da igreja. O Pentecostes não é um episódio isolado,uma vez que a presença e a ação do Espírito Santo guiam e animam constantemente o caminho da comunidade cristã.

Nos atos dos apóstolos, de fato, São Lucas, além de narrar a grande efusão que aconteceu no Cenáculo cinquenta dias após a Páscoa (At 2,1-13), se refere a outras intervenções extraordinárias do Espírito Santo, as quais retornam na história da Igreja. E hoje, quero concentrar-me sobre aquele que foi "o pequeno Pentecostes", manifestado no cume de uma fase difícil na vida da Igreja nascente.

Os atos dos apóstolos narram que, após a cura de um paralítico diante do Templo de Jerusalém (At 3,1-10) , Pedro e João foram presos porque anunciavam a Ressurreição de Jesus a todo o povo. (At 3, 11-26). Depois de um processo sumário, foram recolocados em liberdade, chegaram aos seus irmãos e narraram tudo que haviam sofrido por causa do testemunho ligado à pessoa de Jesus, o Ressuscitado. Naquele momento - diz São Lucas - "todos, unânimes ergueram a voz a Deus" (At 4,24). Ali, São Lucas reporta a mais ampla oração da Igreja que encontramos no Novo testamento, no final da qual, como ouvimos, "o lugar no qual se reuniam tremeu e todos ficaram repletos do Espírito Santo e proclamavam a Palavra de Deus com ardor" (At 4,31).

Antes de considerar essa bela oração, notamos uma atitude de fundo muito importante: diante do perigo, das dificuldades, das ameaças, a primeira comunidade cristã não busca fazer análises de como reagir, encontrar estratégias, como defender-se, quais medidas adotar, mas, diante da prova, se coloca em oração, entra em contato com Deus.

E qual característica tem esta oração? Se trata de uma oração unânime e concorde em toda a comunidade, diante de uma situação de perseguição por causa de Jesus. No original grego São Lucas usa o vocábulo homothumadon - todos juntos, concordes - um termo que aparece em outras partes dos Atos dos Apóstolos para sublinhar esta oração perseverante e concorde (At ,14;2,46).Esta concórdia é elemento fundamental da primeira comunidade cristã e deveria ser sempre fundamental para a Igreja. Não é então somente a oração de Pedro e de João, os quais estavam em perigo, mas de toda a comunidade, porque o que vivem os apóstolos não diz respeito somente a eles, mas a corresponde à vida de toda a igreja. Diante das perseguições sofridas por causa de Jesus, a comunidade não somente não se assusta e não se divide, mas é profundamente unida na oração, como uma só pessoa, para invocar o Senhor. Isto, diria, é o primeiro prodígio que se realiza quando os crentes são colocados à prova por causa da fé deles: a unidade de consolida, aos invés de ser comprometida, porque é sustentada por uma pração que não vacila. A Igreja não deve temer as perseguições que na sua história foi obrigada a sofrer, mas confiar sempre, como Jesus no Getsêmani, na presença, na ajuda e na força de Deus, invocado na oração.

Façamos um passo sucessivo: o que a comunidade cristã pede a Deus neste momento de provação? Não pede a preservação da vida diante da perseguição, nem que o Senhor se vingue daqueles que encarceraram Pedro e João; mas pede somente que seja concedido a ela de proclamar com toda a força a Palavra de Deus (At 4,29), isto é, reza para não perder a coragem da fé, a coragem de anunciar a fé. Antes, entretanto, busca compreender com profundidade aquilo que aconteceu, busca ler os acontecimentos à luz da fé e o faz exatamente através da Palavra de Deus,que nos faz decifrar a realidade do mundo.
Na oração que eleva ao Senhor, a comunidade parte do recordar e do invocar a grandeza e imensidade de Deus: "Senhor, tu que criaste o céu e a terra, o mar e todas as coisas que neles se encontram" (At 4,24). É a invocação ao Criador: sabemos que tudo vem dele, que tudo está em suas mãos. Esta é a consciência que nos dá certeza e coragem: tudo vem dele, tudo está nas suas mãos. Passa depois a reconhecer como Deus agiu na história - portanto, começa com a criação e continua na história - , como esteve próximo de seu povo mostrando-se um Deus que se interessa pelo homem, que não se retirou, que não abandona o homem, sua criatura; e que vem citado explicitamente no Salmo 2, à luz do qual vem lida a situação de dificuldade que está vivendo naquele momento a Igreja. O Salmo 2 celebra a entronização do Rei de Judá, mas se refere profeticamente à vinda do Messias, contra o qual nada poderão fazer a rebelião, a perseguição e a imposição dos homens: "Porque as nações se agitaram e os povos tramavam coisas vãs? Se elevaram os reis da terra e os principes se aliaram juntos contra o Senhor e contra o seu Cristo" (At 4,25). Isso diz já profeticamente o Salmo sobre o Messias, e é característica em toda a história esta rebelião dos potentes contra a potência de Deus. Exatamente lendo a Sagrada Escritura, que é Palavra de Deus, a comunidade pode dizer a Deus na sua oração: "Verdadeiramente nesta cidade se uniram contra o teu santo servo Jesus, que tu consagraste, para cumprir aquilo que a tua mão e a tua vontade haviam decidido que acontecesse" (At 4,27). Aquilo que aconteceu foi lido à luz de Cristo, que é a chave para compreender também a perseguição; a cruz, que sempre é a chave para a Ressurreição. A oposição em relação a Jesus, a sua Paixão e Morte, são relidas, através do Salmo 2, como atuação do projeto de Deus Pai para a salvação do mundo. E aqui se encontra também o sentido da experiência de perseguição que a primeira comunidade cristã está vivendo; esta primeira comunidade não é uma simples associação, mas uma comunidade que vive em Cristo; portanto, aquilo que acontece a ela faz parte do desígnio de Deus. Como aconteceu com Jesus, também os discípulos encontram oposição, incompreensão, perseguição. Na oração, a meditação sobre a Sagrada Escritura à luz do mistério de Cristo ajuda a ler a realidade presente no núcleo da história da salvação que Deus atua no mundo, sempre a seu modo.

Exatamente por isto ,o pedido que a primeira comunidade cristã de Jerusalém formula a Deus na oração não é aquela de ser defendida, de ser poupada da provação, do sofrimento, não é a oração para se obter sucesso, mas somente aquela de poder proclamar com parresia, isto é com ardor, com liberdade, com coragem, a Palavra de Deus. (At 4,29).


Acrescenta depois o pedido para que este anúncio seja acompanhado pela mão de Deus, para que se realizem curas, sinais e prodígios (At 4,30), isto é, seja visível a bondade de Deus, como força que transforme a realidade, que transforme o coração, a mente, a vida dos homens e leve a novidade radical do Evangelho.

Ao final da oração - destaca São Lucas - "o lugar no qual estavam reunidos tremeu e todos ficaram repletos do Espírito Santo e proclamavam a palavra de Deus com ardor" (At 4,31). O lugar tremeu, isto é, a fé tem a força de transformar a terra e o mundo. O mesmo Espírito que falou por meio do Salmo 2 na oração da Igreja, invade a casa e preenche o coração de todos aqueles que invocaram o Senhor. Este é o fruto da oração que a comunidade cristã eva a Deus: a efusão do Espírito, dom do Ressuscitado que sustenta e guia o anúncio livre e corajoso da Palavra de Deus, que impulsiona os discípulos do Senhor a sair sem medo para levar a boa-nova até os confins da terra.

Também nós, irmão e irmãs, devemos saber levar os acontecimentos da nossa vida cotidiana para a nossa oração, para procurarmos o significado profundo. E como a primeira comunidade cristã, também nós, deixemo-nos iluminar da Palavra de Deus, através da meditação das Sagradas Escrituras, possamos aprender a ver que Deus está presente na nossa vida, presente também nos momentos difíceis, e que tudo - também as coisas incompreensíveis- faz parte de um superior desígnio do amor no qual a vitória final sobre o mal, o pecado e sobre a morte é verdadeiramente aquela do bem, da graça, da vida, de Deus.

Como para a primeira comunidade cristã, a oração nos ajuda a ler a história pessoal e coletiva na prospectiva mais justa e fiel, aquela de Deus. E também nós queremos renovar o pedido do dom do Espírito Santo, que esquenta o coração e ilumina a mente, para reconhecer como o Senhor realiza as nossas invocações segundo a sua vontade de amor e não segundo as nossas ideias. Guiados pelo Espírito de jesus, seremos capazes de viver com serenidade, coragem e alegria, cada situação da vida e com São Paulo nos avantajarmos "nas tribulações, sabendo que a tribulação produz paciência, a paciência a virtude provada e a virtude provada na esperança": aquela esperança que não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações por meio do Espírito Santo que nos foi doado" (Rom 5, 3-5). Obrigado.

fonte: http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?iid=285933

sexta-feira, 6 de abril de 2012


A NOVENA À DIVINA MISERICÓRDIA
(O DIÁRIO de santa Irmã Faustina)

"NOVENA à Misericórdia Divina que Jesus me mandou escrever e rezar antes da Festa da Misericórdia. Começa na sexta-feira santa.

Desejo que, durante estes nove dias, conduzas as almas à fonte da Minha misericórdia, a fim de que recebam força, alívio e todas as graças de que necessitam nas dificuldades da vida e, especialmente na hora da morte. Cada dia conduzirás ao Meu Coração um grupo diferente de almas e as mergulharás nesse oceano da Minha misericórdia. Eu conduzirei todas essas almas à Casa de Meu Pai. Procederás assim nesta vida e na futura. Por Minha parte, nada negarei àquelas almas que tu conduzirás à fonte da Minha misericórdia. Cada dia pedirás a Meu Pai, pela Minha amarga Paixão, graças para essas almas.


Primeiro Dia

Hoje, traze-Me a Humanidade inteira, especialmente todos os pecadores e mergulha-os no oceano da Minha misericórdia (...).

Ó onipotencia da misericórdia divina,
Socorro para o homem pecador,
Vós sois o oceano de misericórdia a de amor,
E ajudais a quem Vos pede humildemente.

Eterno Pai, olhai com misericórdia para toda Humanidade, encerrada no Coração compassivo de Jesus, mas especialmente para os pobres pecadores. Pela Sua dolorosa Paixão mostrai-nos a Vossa misericórdia, para que glorifiquemos a onipotência da Vossa misericórdia, pelos séculos dos séculos. Amém.


Segundo Dia

Hoje, traze-Me as almas dos sacerdotes e religiosos e mergulha-as na Minha insondável misericórdia (...).

A fonte do amor divino
Mora nos coraçoes puros,
Banhados no mar da misericórdia ,
Brilhantes como as estrelas, luminosos como a aurora.

Eterno Pai, dirigi o olhar da Vossa misericórdia para a porção eleita da Vossa vinha:
para as almas dos sacerdotes e religiosos. Concedei-lhes o poder da Vossa bênção e,
pelos sentimentos do Coração de Vosso Filho, no qual estão encerradas, dai-lhes a força da Vossa luz, para que possam guiar os outros nos caminhos da salvação, e juntamente com eles cantar a glória da Vossa insondável misericórdia, pelos séculos eternos. Amém.


Terceiro Dia

Hoje, traze-Me todas as almas piedosas e fiéis e mergulha-as no oceano da Minha misericórdia (...).

As maravilhas da misericórdia sao insondáveis;
Nem o pecador nem o justo as entenderá;
Para todos olahis com o olhar da compaixao
E a todos atraís para o Vosso amor.

Eterno Pai, olhai com o olhar da Vossa misericórdia para as almas fiéis, como a herança do Vosso Filho. Pela Sua dolorosa Paixão concedei-lhes a Vossa bênção e cercai-as da Vossa incessante proteção, para que não percam o amor e o tesouro da santa fé, mas com toda multidão dos Anjos e dos Santos glorifiquem a Vossa imensa misericórdia, por toda a eternidade. Amem.


Quarto Dia


Hoje, traze-Me os pagãos e aqueles que ainda não Me conhecem e nos quais pensei na Minha amarga Paixão. O seu futuro zelo consolou o Meu Coração. Mergulha-os no mar da Minha misericórdia (...).

Que a luz do Vosso amor
Ilumine as trevas das almas!
Fazei que essas almas Vos conheçam
E glorifiquem a Vossa misericórdia, juntamente conosco!

Eterno Pai, olhai com misericórdia para as almas dos pagãos e daqueles que ainda não Vos conhecem e que estão encerrados no Coração compassivo de Jesus. Atraí-as à luz do Evangelho. Essas almas não sabem que grande felicidade é amar-Vos. Fazei com que também elas glorifiquem a riqueza da Vossa misericórdia, por toda a eternidade. Amém.


Quinto Dia

Hoje traze-me as almas dos cristãos separadas da unidade da Igreja e mergulha-as
no mar da Minha misericórdia (...).

Mesmo para aqueles que rasgaram o manto da Vossa Unidade
Flui do Vosso Coraçao uma fonte de compaixao;
A onipotencia da Vossa misericórdia, ó Deus,
Pode tirar também essas almas do erro.

Eterno Pai, olhai com misericórdia para as almas dos nossos irmãos separados que esbanjaram os Vossos bens e abusaram das Vossas graças, permanecendo teimosamente nos seus erros. Não olheis para os seus erros, mas para o amor do Vosso Filho e para sua amaga Paixão, que suportou por eles, pois também eles estãp encerrados no Coração compassivo de Jesus. Fazei com que tqmbém eles glorifiquem a Vossa misericórdia poe todos os séculos eternos. Amém


Sexto Dia


Hoje, traze-me as almas mansas e humildes, assim como as almas das criancinhas
e mergulha-as na Minha misericórdia (...).

A alma verdadeiramente humilde e mansa
Já respira aqui na terra o ar do paraíso,
E o perfume do seu coraçao humilde
Encanta o próprio Criador.

Eterno Pai, olhai com misericórdia para as almas mansas, humildes e para as almas das criancinhas, que estão encerradas na mansão compassiva do Coração de Jesus. Estas almas são as mais semelhantes a Vosso Filho. O perfume destas almas eleva-se da Terra e alcança o Vosso Trono. Pai de misericórdia e de toda bondade, suplico-Vos pelo amor e predileção que tendes para com estas almas: abençoai o mundo todo, para que todas as almas cantem juntamente a glória à Vossa misericórdia, pelos séculos eternos. Amém


Sétimo Dia


Hoje, traze-Me as almas que veneram e glorificam de maneira especial a Minha misericórdia e mergulha-as na Minha misericórdia (...).

A alma que glorifica a bondade do Senhor
É por Ele especialmente amada;
Ela está sempre próxima da fonte viva
Ebebe as graças da misericórdia divina.

Eterno Pai, olhai com misericórdia para as almas que glorificam e honram o Vosso maior atributo, isto é, a Vossa insondável misericórdia. Elas estão encerradas no Coração compassivo de Jesus. Estas almas são o Evangelho vivo e as suas mãos estão cheias de obras de misericórdia; suas almas repletas de alegria cantam um hino da misericórdia ao Altíssimo. Suplico-Vos, ó Deus, mostrai-lhes a Vossa misericórdia segundo a esperança e a confiança que em Vós colocaram. Que se cumpra nelas a promessa de Jesus, que disse: As almas que veneram a Minha insondável misericórdia, Eu mesmo as defenderei durante a sua vida, e especialmente na hora da morte, como Minha glória. Amém


Oitavo Dia


Hoje, traze-Me as almas que se encontram na prisão do Purgatório e mergulha-as
no abismo da Minha misericórdia (...).

Do terrível ardor do fogo do purgatório
Ergue-se um lamento das almas a Vossa misericórdia;
E recebem consolo, alívio e conforto
Na torrente derramada do Sangue e da Água.

Eterno Pai, olhai com misericórdia para as almas que sofrem no Purgatório e que estão encerradas no Coração compassivo de Jesus. Suplico-Vos que, pela dolorosa Paixão de Jesus, Vosso Filho, e por toda a amargura de que estava inundada a sua Santíssima Alma, mostreis Vossa misericórdia às almas que se encontram sob o olhar da Vossa justiça. Não olheis para elas de outra forma senão através das Chagas de Jesus, Vosso Filho muito amado, porque nós cremos que a Vossa bondade e misericórdia são incomensuráveis. Amém


Nono Dia


Hoje, traze-Me as almas tíbias e mergulha-as no abismo da Minha misericórdia (...).

O fogo e o gelo nao podem ser unidos,
Porque ou o fogo se apaga, ou o gelo se derrete;
Mas a Vossa misericórdia, ó Deus,
Pode auxiliar indigencias ainda maiores.

Eterno Pai, olhai com Vossa misericórdia para as almas tíbias e que estão encerradas no Coração compassivo de Jesus. Pai de Misericórdia, suplico-Vos pela amargura da Paixão de Vosso Filho e por Sua agonia de três horas na Cruz, permiti que também elas glorifiquem o abismo da Vossa misericórdia... Amém" (Diário 1209-1228).



NOVENA
"O Senhor me disse para rezar o Terço [da misericórdia]
por nove dias antes da Festa da Misericórdia (...)

Através desta novena concederei às almas toda espécie de graças" (Diário 796)
.

FONTE: http://jesus-misericordioso.com/novena-festa-divina-misericordia.htm

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Conversa com Jesus numa tarde de Sexta-feira Santa

A tarde cai por detrás da serra, a luz se esvai no clarão do mar.

Você, Jesus carregou – você mesmo – a cruz às costas (Jo 19,17). É como se visse Abraão e Isaac subindo o monte Moriáh. “Meu pai, aqui estão o fogo e a lenha. Mas onde estará o cordeiro para o holocausto?” (Gn 22,7). Deus providenciará! Subiu o pai, repetindo, para si mesmo. A cada passo, uma nova repetição. A cada nova repetição, uma força a mais para se apegar ao impossível.

Agora, Jesus, é a sua vez de repetir: O Pai providenciará. Mas, e se o Pai se cala: silencia toda palavra, todo gesto, toda intenção? Naquele oceano de dor, o que mais lhe doía era a ausência de quem sempre esteve lá e não poderia deixar estar, justo ali?“Por que me abandonaste?” (Mt 27,46). Onde estaria o cordeiro para o holocausto? Onde Pai? Você, meu Filho, você é o cordeiro.

Faltem-me todas as presenças. Esvaziem-se todas as vozes. Quanto mais funda se tornar a areia sob meus pés, quanto mais cortante for o vento, quanto mais cerrado o nevoeiro, ainda mais nítida se torne sua voz, com uma palavra única, uma palavra só, e somente esta: Sou eu, não temas! São seiscentos metros desde o horror do pretório ao horror do Calvário. Pouco, para quem caminha em vida. Muito, para quem se arrasta à beira da morte. Mas eu peço: não pare, Senhor.

Nem desça da cruz, por favor. Não se permita não alcançar o fim. Que será de nós se esse rio não desaguar no mar? Deixe que se arrastem as três intermináveis horas. Espera o fel para os seus lábios. Oferece o lado para o rasgão bendito. Fique até o fim. Mostre ao mundo a distinção essencial entre acabar e consumar-se. Não tivemos água para sua sede. Não tivemos ombro para o seu cansaço. Não tivemos remédio para sua dor. Algum dia, tivemos algo mais do que vinagre? Que lugar ocupamos na distância que lhe trouxe até esse topo de colina? Quem fomos ao longo desse caminho amargo: a Mãe, Cireneu, Verônica, as mulheres, Pedro, os soldados?

Agora, Senhor, descanse seu sono, breve como a aragem da manhã. Você foi além do esperado, do previsível, do prometido. Já o sol se põe, lá longe. As espigas dançam ao vento, douradas de luz, do mais lindo sol poente que já houve. Os homens ainda não sabem que estão libertos de antigas cadeias. Mas eu sei. Nós dois sabemos. Outros saberão. E, se um dia, sopros misteriosos apagarem todas as estrelas e a luz se apagar, e mãos invisíveis soltarem todas as tempestades... Se um dia, a desolação interior nos levar a exclamar: Por que me abandonaste?... É que chegou a hora da plenitude, a nona hora: a nossa hora. Estaremos prontos e seremos dignos? Até o fim?

“Das profundezas minha alma clama a ti. Deus meu, ouve o meu grito!” (Sl 129).

Você, Senhor, desceu até águas profundas e se afogou cercado de sombras. Mas nessa hora, ouviu-se a voz do Pai, que parecia ausente, se manifestar. Não era possível que a morte ocupasse o centro da sua vida e o vazio, o centro de tudo que você foi. Você arrastou consigo a miséria do mundo para o nada em que se viu convertido. Enfim, o Pai o chamou, e o ergueu e você está nas em Suas mãos. Tudo se consumou! Pelas rotas escuras da noite avança a aurora. Das entranhas da morte brota e cresce, ereta como o cipreste, a árvore da ressurreição. Ainda que outros digam que nada mudou, a mão do Pai se manifesta, e Ele diz à morte: Jamais terás a palavra final!

“O Senhor é o pastor que me conduz, nada me falta. Passarei os mais negros abismos, sem temer mal nenhum” (Sl 23).

Mais dia menos dia, terei também eu a chance única de dizer ao Pai, que a grande homenagem a ser a Ele prestada, é a de aceitar, todo dia e a cada instante, não poder ver um palmo diante dos olhos e, mesmo assim, confiar e prosseguir. Que rumo tomará minha vida? Não sei nem me importo. O Pai sabe: só isso importa.

Fui morto na cruz com Cristo. Vivo, mas já não sou mais eu que vivo: é Cristo quem vive em mim (Gl 2,19).

Acabou? Não! Apenas começou.

Agora, Senhor, é a hora das lâmpadas se encherem de óleo, das figueiras estéreis florescerem, da colheita, da festa de casamento e da dança. As cadeias irão se abrir, as espadas vão se enferrujar. Chegou, enfim, o dia de ver o Pai vestindo os lírios do campo e alimentando os pardais, pelas praças.

Que ao seu Nome, Jesus, todo joelho se dobre, no céu, na terra e sob a terra, e toda língua confesse, que só você é o Senhor, para a glória de Deus, o Pai. Amém!

+ Dom José Francisco Rezende Dias

Arcebispo Metropolitano de Niterói